Cientista da UFPR descobriu o material em Ortigueira.
Floresta é a terceira localizada na América do Sul - e a única com bom estado
de conservação, segundo a pesquisadora.
Uma floresta de fósseis de árvores com cerca de 290 milhões de anos foi descoberta em Ortigueira, no Norte Pioneiro do Paraná. O achado foi publicado pela pesquisadora Thammy Mottin, doutoranda da Universidade Federal do estado (UFPR).
Inicialmente, a busca era por informações da glaciação registrada entre os períodos Carbonífero (359,2 milhões a 299 milhões de anos atrás) e o Permiano (299 milhões a 251 milhões de anos atrás) e a passagem para uma fase pós-glacial.
Mas, em novembro de 2018, a equipe identificou o grupo de
mais de 150 licófitas, plantas quase completamente extintas, em pé, em posição
de vida, perpendiculares às camadas de rocha.
Na América do Sul florestas semelhantes foram descobertas
em apenas outros dois lugares: na Patagônia argentina e no Rio Grande do Sul.
Em Ortigueira, a surpresa foi ainda maior para os pesquisadores por conta da
boa preservação das estruturas.
Segundo Thammy Mottin, árvores nesta posição são comuns na
América do Norte, mas na América do Sul sempre foram encontradas deformadas e
em número muito inferior ao registrado no Paraná.
"Fiquei emocionada de verdade. Nunca imaginei
descobrir algo tão grandioso e lindo. Tem importância nacional e em toda a área
do hemisfério sul. Ocorrências de plantas tão antigas e tão bem preservadas,
além da forma de conservação bastante incomum, são raras em todo o mundo",
disse.
Conforme o estudo, as evidências geológicas mostram que a
floresta ficava às margens de um rio e acabou soterrada por conta de uma
inundação com a água carregada de sedimentos.
"Esse soterramento foi tão rápido na escala de tempo
geológica que as árvores morreram em posição vertical. No âmbito científico, as
licófitas encontradas no Paraná diferem bastante das vistas na América do Norte
e Europa. Há potencial para a realização de estudos adicionais na área de
Ortigueira que podem impactar em temas globais como a colonização do ambiente
terrestre, evolução deste grupo de plantas e comparação com o registro do
hemisfério norte atual", explicou.
A cientista explica que os indícios são de que o
soterramento foi tão rápido que é como se a floresta estivesse "congelada
no tempo, da exata maneira como existia, há centenas de milhões de anos".
A doutoranda reforçou a importância de preservar o achado
para que essa parte da história continue sendo acessada. De acordo com ela, é
necessária atuação de órgãos ambientais para a conservação do local, sob risco
de interferência humana.
"Eu queria enfatizar também a importância do apoio à
pesquisa. Essa descoberta só foi possível graças ao investimento em pesquisa
por órgãos de fomento como a CAPES e CNPq", finalizou a pesquisadora.
Além de Thammy, participaram da pesquisa e da elaboração do
artigo científico o co-orientador da doutoranda, o paleobotânico da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Roberto Iannuzzi, o
orientador da UFPR, Fernando Vesely, e os pesquisadores americanos Isabel
Montanez, Neil Griffis Alex Lombardo.
Por Bárbara Hammes, g1 PR — Ponta Grossa
Foto: Arquivo Pessoal/Thammy Mottin