quinta-feira, 16 de junho de 2022

Cientista encontra fósseis de árvores com cerca de 290 milhões de anos no Paraná

 




Cientista da UFPR descobriu o material em Ortigueira. Floresta é a terceira localizada na América do Sul - e a única com bom estado de conservação, segundo a pesquisadora.

Uma floresta de fósseis de árvores com cerca de 290 milhões de anos foi descoberta em Ortigueira, no Norte Pioneiro do Paraná. O achado foi publicado pela pesquisadora Thammy Mottin, doutoranda da Universidade Federal do estado (UFPR).

Inicialmente, a busca era por informações da glaciação registrada entre os períodos Carbonífero (359,2 milhões a 299 milhões de anos atrás) e o Permiano (299 milhões a 251 milhões de anos atrás) e a passagem para uma fase pós-glacial.

Mas, em novembro de 2018, a equipe identificou o grupo de mais de 150 licófitas, plantas quase completamente extintas, em pé, em posição de vida, perpendiculares às camadas de rocha.

Na América do Sul florestas semelhantes foram descobertas em apenas outros dois lugares: na Patagônia argentina e no Rio Grande do Sul. Em Ortigueira, a surpresa foi ainda maior para os pesquisadores por conta da boa preservação das estruturas.

Segundo Thammy Mottin, árvores nesta posição são comuns na América do Norte, mas na América do Sul sempre foram encontradas deformadas e em número muito inferior ao registrado no Paraná.

"Fiquei emocionada de verdade. Nunca imaginei descobrir algo tão grandioso e lindo. Tem importância nacional e em toda a área do hemisfério sul. Ocorrências de plantas tão antigas e tão bem preservadas, além da forma de conservação bastante incomum, são raras em todo o mundo", disse.

Conforme o estudo, as evidências geológicas mostram que a floresta ficava às margens de um rio e acabou soterrada por conta de uma inundação com a água carregada de sedimentos.

"Esse soterramento foi tão rápido na escala de tempo geológica que as árvores morreram em posição vertical. No âmbito científico, as licófitas encontradas no Paraná diferem bastante das vistas na América do Norte e Europa. Há potencial para a realização de estudos adicionais na área de Ortigueira que podem impactar em temas globais como a colonização do ambiente terrestre, evolução deste grupo de plantas e comparação com o registro do hemisfério norte atual", explicou.

A cientista explica que os indícios são de que o soterramento foi tão rápido que é como se a floresta estivesse "congelada no tempo, da exata maneira como existia, há centenas de milhões de anos".

A doutoranda reforçou a importância de preservar o achado para que essa parte da história continue sendo acessada. De acordo com ela, é necessária atuação de órgãos ambientais para a conservação do local, sob risco de interferência humana.

 O Governo do Paraná informou que não foi comunicado formalmente da descoberta, mas que entrou em contato com a pesquisadora após ter conhecimento da pesquisa. O g1 tenta contato com a Prefeitura de Ortigueira sobre a descoberta.

"Eu queria enfatizar também a importância do apoio à pesquisa. Essa descoberta só foi possível graças ao investimento em pesquisa por órgãos de fomento como a CAPES e CNPq", finalizou a pesquisadora.

Além de Thammy, participaram da pesquisa e da elaboração do artigo científico o co-orientador da doutoranda, o paleobotânico da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Roberto Iannuzzi, o orientador da UFPR, Fernando Vesely, e os pesquisadores americanos Isabel Montanez, Neil Griffis Alex Lombardo.



Por Bárbara Hammes, g1 PR — Ponta Grossa

 Foto: Arquivo Pessoal/Thammy Mottin

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